Me chamo Juliana Sizue Kinukawa, tenho 30 anos, sou enfermeira, gaúcha e sou da terceira geração de descendentes japoneses (sansei). Conheci a Mirai Company através do meu tio André que fez o processo de visto e indicação de trabalho.
Venho aqui compartilhar a minha trajetória de ir para o Japão pela primeira vez, desde o meu interesse, à dificuldade de conseguir o certificado de elegibilidade, o procedimento com o visto, definição da vaga de trabalho, procedimentos de embarque, chegada ao Japão, a minha percepção nos primeiros meses e minha percepção depois de adaptada.
Tentei ir à primeira vez para o Japão com meu pai em 2013, mas não conseguimos o certificado de elegibilidade, fizemos o processo com outras agências e desde então, a saga de conseguir ir para o país do sol nascente continuava, mas nunca conseguíamos.
Como meu tio havia feito o processo de visto com a Mirai e já estava morando no Japão, ele nos indicou a agência e então começamos a fazer o nosso processo também com o Sr. Lucas, do qual sempre se mostrou disposto a ajudar e a sanar todas as nossas duvidas e inseguranças durante todo o processo.
O objetivo sempre foi ir a família toda (pai, mãe, eu e irmão).
Desta vez nós estávamos confiantes na escolha da agência e que tudo daria certo.
Até que em 2022 através da Mirai, nosso processo deu certo e em 05/2022 embarcou meu pai e meu irmão e aí começou a minha insegurança antes mesmo de embarcar, meu medo era as conexões, me perder, não saber e não conseguir me comunicar nos aeroportos. Lembro que liguei uns dias antes do embarque para o Sr. Lucas e prontamente ele me atendeu e me tranquilizou, dizendo que daria tudo certo, mas que caso eu precisasse ele estaria disponível em qualquer momento para me atender. No aeroporto ele entregou uma pastinha com todos os documentos que precisaríamos desde o embarque até o desembarque e imigração com todo o passo a passo e então em 12/2022 embarcamos eu e minha mãe.
O meu desejo de largar toda a minha vida, minha profissão, amigos, familiares era de poder ter a possibilidade de conhecer e viver uma outra cultura, em um outro país. E já que temos descendência japonesa, a escolha primeiramente seria Japão e também por poder conhecer o lugar em que meu avô nasceu (Aichi-ken, Nagoia-shi).
Tem duas coisas das quais meu pai sempre falava: – Conhecer um país a turismo é totalmente diferente do que morar nele e vivenciar diariamente a cultura, costumes, etc., por isso desejo que meus filhos conheçam o Japão dessa forma;
E a outra fala é: – Muitas pessoas gostariam de ter a oportunidade de ir morar em um novo país, e vocês possuem essa oportunidade, então aproveitem em quanto puderem.
Eu sabia desde o princípio que trabalharia em fábrica (como “peão”) e nunca tive problemas com essa realidade. O fato de estar com toda a família junto, me dava mais conforto, principalmente com o idioma, do qual eu não sabia nada, mas como meus pais já haviam morado no Japão antes do meu nascimento, eles tinham uma base.
Bom, os 6 primeiros meses chegados ao Japão foram horríveis para mim, em todos os sentidos. E digo que o Japão é um país totalmente diferente do Brasil, parece ser um mundo fora do nosso, pois é tudo diferente do que estamos habituados, não é como países da Europa ou EUA que em alguma coisa se parece com o Brasil, por exemplo, comida, idioma, modo de se vestir.
Estranhei o silêncio, pois você não escuta barulho de nada, mesmo morando na cidade, não existe o barulho de vizinhos, de cachorro, de buzina, achei um país depressivo, essa era a palavra que definia o Japão para mim naquele momento.
Não conseguir ter o mínimo/básico que é se comunicar, falar com as pessoas, poder se expressar, poder se defender, foi terrível para mim, me dava uma sensação de impotência, de inferioridade, de insegurança. Por isso, quem tiver oportunidade em estudar nem que seja um pouco do idioma, aconselho que se dedique para não passar pela mesma experiência que eu passei.
Outra questão difícil no início foi o fato de trabalhar em fábrica, trabalhar basicamente com esforço físico, por mais que vagas para mulheres sejam menos pesadas do que para homens, trabalhar muitas vezes em local sujo, barulhento, barulho das empilhadeiras, das máquinas, em pé 12hs por dia, em locais muito quentes e muito frios.
Senti na pele o significado das palavras “você ter noção do que te espera e vivenciar aquilo são coisas totalmente diferentes”. Digo, porque no Brasil na maioria das vezes conversamos com as pessoas, podemos olhar o celular em algum momento, vamos ao banheiro quando da vontade, conseguimos comer (falo de experiências profissionais que tive no Brasil). Mas no Japão não, você só pode ir ao banheiro com autorização do chefe, tem fábricas que você trabalha 8hs com 1hs de intervalo somente, ou seja, durante toda a manhã e toda a tarde você não tem nenhum intervalo para ir ao banheiro ou comer algo rápido que seja, você trabalha sem poder abrir a boca para conversar, quanto menos pegar no celular, a palavra que me definia nesse momento era que eu era um robô.
Lembrando que, essas são experiências de fábricas das quais eu trabalhei, mas não podemos generalizar, porque não são todas assim. E por experiência própria eu sei disso também.
Outra questão que para mim foi diferente é que eu não saí do Brasil passando sufoco financeiramente ou em uma situação difícil, portanto não fui para o Japão focada somente em trabalhar e juntar dinheiro como 99% dos dekaseguis. Por isso, o “back” que tive no início foi muito grande, porque eu pensava que não precisava passar por aquilo, perguntas como: porque eu larguei minha vida estável no Brasil para passar por isso? Me vinham à cabeça.
Mas, como todos nós sabemos, para você obter algo na vida, você tem que abdicar de algo, e comigo não foi diferente, abdiquei da minha vida aqui, trabalhei em algo que não era minha realidade para poder viver definitivamente a terra do sol nascente.
Neste meio tempo turbulento e de adaptação, não posso deixar de dizer que tive o apoio, a escuta, e os desabafos que o Sr. Lucas me deu. Em todas as vezes que precisei da ajuda da agência, dos conselhos e puxões de orelha do Sr. Lucas ele sempre esteve ali prestes a me ajudar. E isso é muito importante, porque sabemos que temos um amparo do qual muitas agências não dão depois que os candidatos embarcam, simplesmente “tocam” para cima da empreiteira todas as responsabilidades e não querem mais saber.
Contudo, após passados os 6 primeiros meses, quando acabei de pagar o financiamento, um peso de cima das minhas costas saiu, uma luz no final do túnel começou a surgir.
A partir daí as coisas começaram a melhorar, começou a sobrar mais dinheiro no salário, comecei a fazer a transferência da carteira de habilitação, comecei a comprar roupas e itens que aqui no Brasil seriam mais difíceis de comprar, o idioma já não era mais um monstro, mesmo ainda não sabendo falar, mas já entendia bem mais, conheci mais pessoas, fiz amizades, mesmo que raras, o silêncio que antes era ensurdecedor começou a ser minha paz depois de um dia barulhento de trabalho, consegui ir para uma fábrica da qual se percebia que os chefes pensavam no bem-estar do funcionário, com intervalos de 2 em 2hs, mesmo assim se podia ir ao banheiro quando precisasse, trabalhava em dupla, então podíamos conversar, a fábrica proporciona festas de final de ano (bonenkai), festas de aniversário, passeios para conhecer locais no Japão pela metade do preço, entre outros benefícios.
Outra questão muito importante e que vale citar é a importância que o tantousha tem na nossa vida estando no Japão, depois de ter passado por alguns, pude ter a honra de conhecer e ser funcionária de um tantousha especial que é o Sr. Uehara Akira. Isso mudou muito a minha vida também.
O Akira é muito mais que um tantousha tanto para mim quanto para os funcionários dele, ele é uma pessoa humana, que se dispõe a tentar fazer de tudo pelo seu funcionário, ele promove eventos, leva os funcionários para conhecer lugares, para ir restaurantes, trabalha junto se necessário, nos faz sentir mais confortável no dia a dia, ele foi um pai para mim, na ausência no meu, ele é um anjo vestido de ser humano. E eu sempre digo, se todas as pessoas que fossem ao Japão tivessem a sorte de poder ter um tantousha como o Akira, eu tenho certeza que a vida dessas pessoas seria mil vezes melhor.
Enfim, o Japão depois de 6 meses o que antes era um pesadelo diário, começou a ser meu sonho para um futuro provisório (porque mesmo tendo conseguido um trabalho numa fábrica bacana, eu ainda não estava atuando na minha área, o que para mim era um sonho distante, visto que, não havia aprendido o idioma ainda).
Se eu puder dar um conselho para quem pretende ir ao Japão pela primeira vez é que, não foque somente na vaga de trabalho e escolha a primeira opção que aparecer, pesquise, foque no valor do financiamento, porque estando aqui não damos tanta importância pelo valor que será descontado do salário, mas vivenciando mês a mês o desconto, dependendo do valor isso pesa muito. E depois de quitado o financiamento você sente uma sensação de liberdade, para poder desbravar e desfrutar de um Japão que até então você não tem condições de conhecer.
Diante do exposto, gostaria de deixar o meu muito obrigado e minha eterna gratidão à agência e ao Sr. Lucas por todo o seu profissionalismo impecável, por toda sua dedicação no que se propõe a fazer, por cuidar de cada detalhe, por se preocupar com o seu candidato, por ser honesto e transparente, mesmo que isso não o dê um retorno positivo financeiramente, o que importa para ele é que seu candidato esteja satisfeito e seja tratado da forma que merece mesmo já estando no Japão. E tudo isso nos deixa muito mais tranquilos e seguros durante todo o processo. Agradeço de coração por ter feito parte da história da Mirai e pela Mirai ter feito parte de um período importante e sonhado da MINHA história!!!
Depois de 1 ano e 3 meses vivenciados no Japão, acabei retornando ao Brasil por objetivos e decisões pessoais.
Atualmente, faço parte da equipe da Mirai Company, por estar a pouco tempo atuando nesta área, ainda não estou tendo contato com os candidatos, mas logo espero estar podendo atender, porque hoje posso ajudar e compreender muito mais tudo que um dekasegui sente ao chegar no Japão.